Dr Anderson Lages
Igarapés – caminhos de canoa: uma reflexão sobre os importantes corpos de água que cruzam a cidade de Manaus
Quem viaja pelo Brasil, sobretudo para as regiões sul e sudeste do país desconhecem o termo igarapé. A palavra remonta à origem indígena e significa no sentido literal caminho de canoa. No sul do Brasil, esses corpos de água seriam chamados de riachos, possivelmente. O que poucos entendem é que os igarapés são os principais alimentadores dos grandes rios da Amazônia. Por exemplo: rios Negro, Solimões, Purus e Madeira, e juntos. Esses rios formam a maior e mais volumosa malha hídrica do planeta.
Sabe-se que a Amazônia passa por um vertiginoso crescimento populacional nas últimas décadas, impulsionado por promessas de emprego e renda. A cidade de Manaus, por exemplo, conta com um pujante polo industrial, o maior da Amazônia. Certo modo, isso ajudou na pressão poluidora observada nos igarapés da cidade. Os igarapés do Quarenta, do Mindú ou do Tarumã se encontram sob efeitos de contaminação por esgotos domésticos e industriais.
O progresso econômico em Manaus não acompanhou o desenvolvimento humano. Segundo o IBGE a cidade conta com a sétima maior economia do Brasil, sendo a maior da região norte. Dados da prefeitura de Manaus apontam que a cidade saltou da posição 98 para a posição 83 no saneamento básico. Mas, representa muito pouco para uma cidade tão rica.
Os caminhos de canoa de Manaus
Os caminhos de canoa de Manaus estão abandonados, sendo depositários de toda espécie de lixo e de diversas procedências. Alguns igarapés preservados ainda são encontrados fora do perímetro urbano. Contudo, a grande pergunta que se faz é: Como recuperar esses corpos de água? Há alguma forma de extrair valor econômico desses locais? Igarapés já altamente contaminados, como Mindú e Quarenta, ainda podem ser recuperados? Para essas indagações, é necessário olhar para fora do Brasil, para experiencias bem sucedidas já realizadas lá fora.
A Coréia do Sul foi um dos pioneiros no mundo no tratamento e no reuso da água. Corpos de água foram revitalizados e recuperados na capital Seoul. Aqui no Brasil, em São Paulo, pesquisadores demonstram que o caminho é a preservação das nascentes e a implementação completa de uma rede de esgoto robusta. Dessa forma, pode-se conceber que os igarapés Mindú e Quarenta em Manaus podem sim ser revitalizados. Os dois igarapés tem importantes nascentes ainda preservados.
Um pouco de história dos igarapés de Manaus
Manaus é uma cidade estruturada as margens de um grande rio e muitos dos seus habitantes, tem por cultura, morar em áreas próximas à corpos de água. Isso se evidenciou ainda mais com a criação da zona Franca na década de 1960, quando muitos vieram do interior do Estado e se estabeleceram nas margens do igarapé do Quarenta.
A remoção das pessoas que moram às margens desses igarapés se torna imprescindível nos dias de hoje, aliada à preservação das nascentes e a efetiva implementação de uma rede de esgotos. Isso representará em maior qualidade de vida a essas pessoas, com notável resposta nos campos sociais, ambientais e também nos indicadores de saúde pública, já que que essas populações estarão menos sujeitas as doenças por veiculação hídrica, como diarreias, hepatite ou leptospirose.
Com o tempo, esses ambientes que já foram marcos turísticos em Manaus, poderão ser revitalizados com o fim paisagístico; empreendimentos poderão surgir de fronte aos igarapés restaurados; agências imobiliárias poderão construir centros de lazer, sem contar condomínios residenciais, como muitos já vistos de frente para o rio Negro, na praia da ponta Negra; áreas poderão ser usadas para pesca esportiva ou mesmo práticas associadas a corredeiras, como canoísmo, etc.
Um grande campo, com inúmeras possibilidades poderá se abrir com a recuperação desses corpos de água que dominam a cidade de Manaus, coisas que poderão garantir não só o desenvolvimento ambiental, mas social e econômico também.
Considerações finais
Que os caminhos de canoa de Manaus possam se abrir para o novo, com o entendimento pleno de todos os envolvidos e de todas as potencialidades que esses recursos comportam. Que esse ambientes não representem somente uma lixeira fácil ou esgoto a céu aberto para um povo sem orientação, mas que simbolizem a transformação de vidas e da história social de um povo.
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