Desenvolvimento sustentável na Amazônia: Possível ou utopia?

Escrito por Anderson Lages

Os registros da passagem do homem pelo planeta Terra remontam há aproximadamente 2,5 milhões de anos. Muitas eras e muitas sociedades se consolidaram usando a natureza ao seu favor, em um sutil equilíbrio. A Mesopotâmia prosperou à beira dos rios Tigres e Eufrates, assim como, o Egito atingiu seu apogeu às margens do rio Nilo. Mais tarde, o Império Romano conseguiu muitos avanços no campo da agricultura e da hidrologia, se utilizando de animais para lavoura e de sofisticados sistemas de esgoto, avançados até para a época. A história do povo hindu não pode ser contada sem o rio Ganges.

Os séculos passaram, e, com eles, se percebeu uma grande explosão demográfica, sobretudo, no século XX. Em pouco mais de cem anos, a população do globo terrestre saltou de 1 bilhão para 8 bilhões de habitantes. Isso trouxe uma severa pressão sobre todos os recursos naturais. Água, ar, solo, vegetação, clima, etc., todos entes sensíveis à atual pressão urbana exercida pelo vertiginoso crescimento populacional.

Mais pessoas precisam de água e comida; pessoas necessitam de assentamento residenciais – política de ocupação do solo – com taxas maiores de desmatamento. Mais pessoas precisam se locomover nos grandes centros urbanos, o que aumentou a demanda por combustíveis fósseis que alimentam a maquinaria da indústria automotiva. Muito mais pessoas necessitam agora, de acesso à água tratada e a sistemas de esgotos que evitem doenças por veiculação hídrica.

A competição pelos recursos naturais já traz sérias consequências: aumento das temperaturas médias em todo o planeta, derretimento das calotas polares e subida do nível do mar em cidades costeiras. Na Amazônia, os eventos de grande cheias ocorrem em períodos cada vez menores, o que acarreta danos sociais e econômicos aos povos amazônicos.

A Amazônia, aliás, seguiu a mesma tendência mundial, sob forte pressão nos seus recursos, principalmente nos corpos de água e na ocupação desordenada do solo, sem contar o regime de chuvas alterados pelos fenômenos El nino e El nina, na Costa do Peru. Há vários registros na Amazônia de contaminação em rios, nos solos e no ar, provocadas por atividade humanas que ocorrem sem critérios e muitas vezes de maneira ilegal – como na extração de ouro em garimpos.

A contaminação por mercúrio se notabiliza nos rios amazônicos, assim como, pela contaminação de nitratos em corpos de água subterrâneos. Igarapés se transformaram em esgotos improvisados nos grandes centros, o que contribui, de forma decisiva, para os baixos indicadores de desenvolvimento humano nessas cidades. Capitais como Manaus e Belém, se caracterizam pela grande quantidade de material particulado na atmosfera, o que influencia para doenças respiratórias. Alagações são frequentes nas grandes cidades da Amazônia, resultantes da impermeabilidade do solo, agora predominantemente formados por cimento e concreto.

Com todo o avanço científico e tecnológico do século XXI, o homem moderno parece ter se esquecido de como conviver em harmonia com a natureza. O desenvolvimento da sociedade vindoura precisa se apoiar no desenvolvimento sustentável pleno, que contemple o natural, mas tendo o homem como protagonista integrante desse universo. Sabe-se que a Amazônia detém as maiores reservas de água doce do planeta, tanto em nível de água superficial como subterrânea. Entretanto, sabe-se da baixa cobertura de tratamento de água e esgoto na região, o que representa uma grande contradição para o país que almeja liderar políticas de cunho ambiental no cenário global.

Dessa forma, é necessário que se saia do campo da teoria e se promova um desenvolvimento ambiental sólido, sobretudo, na Amazônia, respeitando as peculiaridades da região e de seu povo. Essas políticas de desenvolvimento precisam vir acompanhadas do controle da natalidade do povo, assim como, de parcerias público privadas, alinhadas aos anseios da sociedade, com formação, capacitação e profissionalização de técnicos, educadores e pesquisadores em meio ambiente, de modo que esses agentes usem a floresta e seus recursos de forma sustentável – gerando renda e movimentando a economia. Desenvolvimento sustentável não pode ser apenas uma referência de livros. É uma expressão que precisa ser vivida pelos tomadores de decisão, caso contrário, representará apenas uma utopia de um povo alienado: de que a economia não depende das condições socioambientais de um povo.

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