Uma perspectiva cautelosa sobre a camada de ozônio é uma reflexão sobre a recuperação total da camada de ozônio. Então, a recuperação da camada de ozônio, celebrada como uma conquista ambiental de magnitude global, agora é alvo de questionamentos sérios. Um novo estudo, publicado recentemente, desafia a narrativa otimista que permeia as avaliações convencionais sobre a saúde da camada de ozônio. Esse estudo suge que o buraco pode estar não apenas persistindo, mas se expandindo.
Então, desde a assinatura do Protocolo de Montreal em 1987, diversos países comprometeram-se a reduzir ou proibir substâncias prejudiciais à camada de ozônio, notadamente os clorofluorcarbonos (CFCs). Essa medida tem reconhecimento mundial de eficácia, mas os últimos anos apresentaram desafios intrigantes para essa narrativa de sucesso.
O buraco na camada de ozônio
Os cientistas acreditam que a queda nos níveis de ozônio vem de uma combinação de fatores. Por exemplo:
- O aquecimento global, que está levando a temperaturas mais altas na estratosfera, onde a camada de ozônio está localizada.
- Os gases clorofluorcarbonetos (CFCs), que foram banidos em 1987 pelo Protocolo de Montreal, mas ainda estão presentes na atmosfera.
- As mudanças na circulação atmosférica, que podem estar levando a uma maior concentração de CFCs sobre a Antártida.
A queda nos níveis de ozônio é uma preocupação significativa, pois o ozônio é um gás essencial que protege a Terra da radiação ultravioleta (UV) prejudicial. A exposição à radiação UV pode aumentar o risco de câncer de pele, catarata e outras doenças.
Os cientistas estão monitorando de perto o buraco na camada de ozônio e estão trabalhando para entender as causas da queda nos níveis de ozônio. No entanto, é importante notar que a recuperação da camada de ozônio pode levar décadas, mesmo com redução a zero das emissões de CFCs.
Dessa forma, o buraco sobre a Antártida, que normalmente atinge seu pico na primavera antes de diminuir no verão, surpreendeu os cientistas ao atingir tamanhos recordes entre 2020 e 2022. Um estudo recente, publicado na Nature Communications, revelou uma queda alarmante de 26% nos níveis de ozônio desde 2004 no centro do buraco durante a primavera antártica.
O que falam os cientistas
Os pesquisadores atribuíram essas descobertas a mudanças no vórtice polar antártico, um vasto redemoinho de baixa pressão e ar muito frio acima do Polo Sul. Essas mudanças, no entanto, levantam dúvidas sobre a eficácia contínua do Protocolo de Montreal na preservação da camada de ozônio.
Enquanto alguns cientistas expressam ceticismo em relação a este estudo, destacando a exclusão de eventos excepcionais em 2002 e 2019, que teriam influenciado significativamente os resultados, é crucial considerar diversas perspectivas. Eventos como a fumaça dos incêndios florestais de 2019 e a erupção vulcânica (La Soufriere) são fatores que afetaram a camada de ozônio.
Além disso, não podemos ignorar a relação entre a estratosfera polar e o fenômeno El Niño. Durante anos de La Niña, o vórtice polar tende a ser mais forte e mais frio, contribuindo para concentrações mais baixas de ozônio. No período entre 2020 e 2022, ocorreu um raro La Niña triplo, mas curiosamente, este fato não se levou esse fato em conta no estudo em questão.
É imperativo adotar uma abordagem cautelosa diante das conclusões deste estudo, que se baseia fortemente em um período relativamente curto de 19 anos. A remoção de eventos “excepcionais” do registro levanta questões sobre a representatividade dos resultados em relação à saúde a longo prazo da camada de ozônio.
Conclusão
A recuperação da camada de ozônio é uma batalha contínua e complexa, envolvendo não apenas esforços para reduzir substâncias nocivas, mas também a compreensão e resposta adequada às dinâmicas atmosféricas em constante mudança. Portanto, enquanto celebramos as conquistas passadas, é vital manter um olhar crítico sobre os desafios presentes e futuros que a camada de ozônio pode enfrentar.
Fonte: Kessenich, H.E., Seppälä, A. & Rodger, C.J. Potential drivers of the recent large Antarctic ozone holes. Nat Commun 14, 7259 (2023). https://doi.org/10.1038/s41467-023-42637-0
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